quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

"PERDA" para se referir à morte de pessoas




"PERDA"


Uma resposta a uma questão (uso da palavra "perda" para se referir à morte de pessoas) que me foi feita por uma amiga espírita. Por isso os argumentos por mim utilizados guardam relação direta com a Doutrina Espírta. Como tenho vários amigos não espíritas, é que, em nome dessa amizade (mesmo que virtual) faço essa introdução.

Vamos ao texto


Prezada amiga de ideal em Cristo.

Você me pede uma opinião sobre a utilização da palavra "perda" para referir-se à morte de pessoas. Segundo você, para muitas pessoas, a palavra “perda” não seria a melhor expressão, pois, pois dá um sentido de propriedade, de posse de algo e pessoas não são posse ou propriedade de ninguém. Nesse sentido sim, porém, vamos analisar sob outro prisma, vejamos...

"Perda", não tem apenas o sentindo material de posse ou propriedade. Os dicionários (Aurélio, Michaellis, Houaiss, dentre outros), já incorporaram a palavra "perda" também com o sentido de morte . Na origem latina da palavra, (perdita ou perdeda) o sentido é de dor, sofrimento, privação... daí, tudo aquilo que causa privação, dor, sofrimento, vem a ser tratado como "perda". E aí vem: perda de tempo, perda de caráter, perda de oportunidade, perda da liberdade, “perda de pessoas”, perda de bens, etc.

Ao se usar o substantivo "perda" para se referir à morte de alguém, não se está usando a palavra com o sentido de posse ou propriedade, mas para expressar uma tristeza, uma privação de convivência concreta, de certo ponto de vista, sofrimento.

O  dicionário Michaellis tem como um dos sinônimos para "perda" a palavra “morte", o dicionário Aurélio usa a palavra "perda", além do sentido de morte, também em sentido teológico, significando "danação, perdição" (perda de uma alma). 

Creio não haver, salvo melhor entendimento, nenhum viés de materialismo em utilizar a palavra "perda", pelo contrário, a restrição ao seu uso seria um excesso de zelo.

Em linquística cada palavra tem o significado que melhor exprime uma ideia, um signo, o que depende do emissor e do receptor da mensagem terem uma mesma ideia para a palavra. A palavra "perda", por exprimir a ideia de dor, é perfeitamente aceita para se referir à morte de uma pessoa querida. Faz parte do arquétipo coletivo. Creio que, por isso, o Espírito Sanson utiliza a palavra 
"perda" em sua comunicação (Evangelho Segundo o Espiritismo cap. 5, item 21), valendo-se do seu sentido lingüístico, que, senso comum, exprime, também, a idéia de morte.

No "O Livro dos Espíritos", na questão 934, temos, na própria pergunta a palavra “perda” com o sentido de morte ("A perda de entes queridos não nos causa um sofrimento tanto mais legítimo quanto é ela irreparável e independente da nossa vontade"?). Os Espíritos não fizeram nenhuma correção em relação à palavra “perda” contida na pergunta. Responderam, de forma clara, à pergunta, pois entenderam o sentido dado à palavra "perda" ("Essa causa de dor atinge assim o rico, como o pobre: representa uma prova, ou expiação, e comum é a lei. Tendes, porém, uma consolação em poderdes comunicar-vos com os vossos amigos pelos meios que vos estão ao alcance, enquanto não dispondes de outros mais diretos e mais acessíveis aos vossos sentidos.")

Pode-se objetar que, em termos espirituais, a morte não existe e que ninguém perde ninguém. Pelo prisma da imortalidade da alma sim, mas pelo aspecto da encarnação não, pois a encarnação tem começo e fim. A pessoa que conhecemos é um conjunto espírito/matéria, cuja convivência solidifica os sentimentos. Portanto é natural que havendo a morte física, haverá a descontinuidade da convivência 
(sentida, vista, percebida) e isso é uma perda, pois não mais se terá o que se tinha, qual seja, a convivência física.

Ainda sob o prisma da morte não existir, muitos preferem o termo desencarnar. Salvo melhor juízo, morte e desencarnação não têm o mesmo sentido e não são, necessariamente, simultâneas. A primeira é física, a segunda é a separação espiritual, o desprendimento mental.
Quando damos um nome a alguém, não damos o nome ao Espírito, mas sim à pessoa (Espírito encarnado em uma dada encarnação). O Espírito, justamente pelo fato de se reencarnar várias vezes, não tem um nome específico. Recebe um nome em cada encarnação. Então, o nome, a persona, é o Espírito reencarnado. Esse conjunto desaparece com a cessação da vida orgânica e a isso é que chamamos morte (veja a questão 68 de “O Livro dos Espíritos”).

Desencarnação é o ato do desligamento do Espírito; desligamento completo, ou seja, inclusive o mental. Quantos espíritos há que, anos após a morte do corpo, ainda se sentem ligados a ele?. Vejamos as dissertações dos espíritos infelizes contidas no livro o Céu e o Inferno (segunda parte), quanto dizem ainda estarem "ligados ao corpo" (alguns por anos ou décadas)... Esses não desencarnaram. Houve a morte física, mas não a desencarnação.

Portanto, em certo sentido, ou melhor, no sentido físico, a morte existe sim, referindo-se a uma estrutura orgânica (LE 68). Quando dizemos "fulano" morreu, não estamos nos referindo ao Espírito imortal ou liberto (que já teve vários nomes), mas sim à pessoa encarnada que não mais será vista "em carne e osso" (valendo-me de expressão coloquial). É a esse fenômeno que se refere a palavra "perda", uma vez que "não mais" haverá esta "pessoa" convivendo fisicamente com os seus amados.

Essas minhas observações estão sempre sujeitas a serem corrigidas, pois externo apenas uma opinião pessoal, sujeita a erro e, por isso mesmo, pode e deve ser corrigida. Espero que meu longo texto não tenha sido uma "perda de tempo" para quem o leu.

Um fraternal abraço, com votos de paz
Simão Pedro


SIMÃO PEDRO DE LIMA  Professor universitário, historiador e contabilista, com Mestrado em Educação Superior e três Especializações em Administração (na área de Gestão Empresarial), História Moderna e Economia Contemporânea. Atualmente, é membro da “Sociedade Espírita Casa do Caminho” em Patrocínio (MG), onde exerce as atividades administrativas e doutrinárias e membro do Conselho Regional Espírita do Alto Paranaíba - MG, onde auxilia na área de assuntos da mediunidade.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

POR QUE PEDIMOS PERDÃO A DEUS?



POR QUE PEDIMOS PERDÃO A DEUS?

Pergunta: Um dia, em nosso círculo de estudos filosóficos, falávamos sobre o perdão, quando veio a pergunta: Se Deus é um ser perfeito, superior a tudo e possui a onisciência, por que pedimos perdão à Ele ? E aí veio uma série de aprofundamentos, foi até citado que no Pai-Nosso tem a frase: "Perdoa as nossas ofensas ...", entre tantas outras posições. Por favor, mande-me um comentário sobre esse assunto. 

Resposta: 

Prezado amigo, salvo melhor juízo, exponho o seguinte:

O perdão é uma atitude advinda de uma ofensa. Para oferecê-lo é preciso que a pessoa, primeiramente, se sinta ofendida. O perdão, no nosso meio de seres não evoluídos, que nos "permitimos" ser ofendidos, é, de certa forma, uma virtude. Quando uso a expressão “de certa forma”, é porque se fôssemos seres evoluídos não nos sentiríamos ofendidos por ninguém, pois compreenderíamos as atitudes das pessoas e, portanto, não haveria necessidade de perdoar. 

Como ainda não desenvolvemos a perfeição, sentimo-nos ofendidos (muitas vezes com atitudes pequenas de outras pessoas) e, depois de muito refletir, tentamos desenvolver essa “virtude”, qual seja, o perdão. Para o ato do perdão é necessário que se tenha a compreensão da outra pessoa a partir de nós mesmos, ou seja, que tal qual a nós mesmos, todas as pessoas podem cometer erros.

Considerando que a Lei de Deus está escrita em nossa consciência, quando sentimos que a transgredimos ficamos com um "drama" existencial e externamos esse drama no pedido de perdão a Deus. Entretanto, o que na verdade fazemos é pedir perdão a nós mesmos [à nossa consciência]. Por isso pedimos perdão a Deus, pois pela consciência do erro buscamos a compreensão [de Deus] a partir de nós mesmos. 

Ao pedirmos perdão a Deus estamos fazendo um exercício de humildade, reconhecendo o erro cometido e abrindo um espaço para o equilíbrio de consciência. Temos necessidade de nos sentirmos perdoados e por ainda tratamos a consciência como algo abstrato, focamos, então, o pedido de perdão em Deus. Essa necessidade individual e pessoal de se sentir perdoado nos leva a ter para com os outros a atitude de perdoar, para conferir-lhes a sensação da reparação das faltas e de abrir-lhes novas oportunidades. 

Você cita na sua pergunta a oração do “Pai Nosso”. Nessa oração, que nos foi ensinada pelo Cristo de Deus, o pedido de perdão a Deus está condicionado ao perdão que oferecermos aos outros ["perdoai as nossas ofensas (dívidas), assim como perdoamos aos nossos ofensores (devedores)"]. Isso não significa que será Deus a nos dar ou não o perdão, mas que nós mesmos nos sentiremos perdoados [em nossa consciência] se conseguirmos oferecer aos outros o mesmo perdão que buscamos. É tão significativo esse aspecto, que Jesus, conforme grafado no evangelho de Mateus, quando termina de expor o Pai Nosso, chama a atenção dos ouvintes para o perdão dizendo: "pois se não perdoardes ao vosso semelhante, vosso Pai que está nos céus também não vos perdoará" 

Essa frase não deve ser entendida de forma literal, mas sim de maneira figurada. Deus, por ser soberanamente justo e bom, por saber de nossas potencialidades e, por conseguinte, de nossas ações (já que Ele é onisciente), não se ofenderia conosco. Seria um contra-senso, então, Deus ter que oferecer o perdão, uma vez que Ele é inatingível. Vale lembrar que o perdão é fruto de uma ofensa e somente se ofende aquele que ainda guarda imperfeições. Deus é perfeito, portanto não pode se sentir ofendido. 

Considerando que a Lei de Deus deve estar escrita em nossa consciência, é aí (na consciência) que buscaremos o perdão de Deus. De que forma? Arrependendo do ato praticado e reparando-o, se necessário e possível, junto à própria pessoa a quem ofendemos. 

Assim sendo, o sentido da frase é: se não perdoarmos aos nossos semelhantes não teremos paz interior, uma vez que a nossa consciência apontará as nossas próprias faltas, para quais também buscamos, na verdade, o perdão. 

Como conseguir o perdão para as nossas faltas se não estamos dispostos a dá-lo a outrem quando de suas faltas? Vale lembrar a passagem da “mulher adúkltera” contida no evangelho de João. Como Jesus conseguiu que as pessoas a deixassem em paz? Concitando-as a se olharem. Disse Jesus: “aquele que estiver sem pecados que atire a primeira pedra”. Como acusar alguém se trazemos em nós, de certa forma, os mesmos erros? Como sentirmo-nos perdoados se não perdoamos aos outros? Essa é a questão primordial.

Bem escreveu o poeta Gibran Kalill Gibra: “o perdão é o perfume que as flores soltam quando são pisadas”. 

Um carinhoso e fraternal abraço
Simão Pedro

SIMÃO PEDRO DE LIMA – Professor universitário, historiador e contabilista, com Mestrado em Educação Superior e três Especializações em Administração (na área de Gestão Empresarial), História Moderna e Economia Contemporânea. Atualmente, é membro da “Sociedade Espírita Casa do Caminho” em Patrocínio (MG), onde exerce as atividades administrativas e doutrinárias e membro do Conselho Regional Espírita do Alto Paranaíba - MG, onde auxilia na área de assuntos da mediunidade.
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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

CARNAVAL


O Espírita e o carnaval


Muitos espíritas, ingenuamente, julgam que a participação nas festas de Momo, tão do agrado dos brasileiros, não acarreta nenhum mal a nossa integridade psico-espiritual. E de fato, não haveria prejuízo maior, se todos pensassem e brincassem num clima sadio, de legitima confraternização. Infelizmente, porém, a realidade é bem diferente. Vejamos, por exemplo, as conclusões a que chegou um grupo de psicólogos que analisou o carnaval, segundo matéria publicada já há algum tempo no Correio Brasiliense, importante jornal da Capital da República:
“(...) de cada dez casais que caem juntos na folia, sete terminam a noite brigados (cenas de ciúme, intrigas, etc.); que, desses mesmos dez casais, posteriormente, três se transformam em adultério; que de cada dez pessoas (homens e mulheres) no carnaval, pelo menos sete se submetem a coisas que abominam no seu dia-a-dia, como o álcool e outras drogas (...). Concluíram que tudo isto decorre do êxtase atingido na grande festa, quando o símbolo da liberdade, da igualdade, mas também da orgia e da depravação, estimulado pelo álcool leva as pessoas a se comportarem fora de seus padrões normais (...)”.
Um detalhe importante que, provavelmente, eles não sabem, é que no plano invisível a turma do astral inferior também se prepara e vem aos magotes participar dos folguedos carnavalescos. Na psicosfera criada por mentes convulsionadas pela orgia, os espíritos das trevas encontram terreno propício para influenciar negativamente, fomentando desvios de conduta, paixões grosseiras, agressões de toda a sorte e, ainda, astuciosas ciladas. No livro “Nas Fronteiras da Loucura”, psicografado por Divaldo Pereira Franco, são focalizados vários desses processos obsessivos, sobre pessoas imprevidentes, que pensavam apenas em se divertir no carnaval do Rio. Mostra também o infatigável trabalho dos espíritos do bem, a serviço de Jesus, procurando diminuir o índice de desvarios e de desfechos profundamente infelizes.
Só por essa amostra já dá pra ver como é difícil, para qualquer cristão, passar incólume pelos ambientes momescos. Por maior que seja a sua fé, os riscos de contrariedades e aborrecimentos são muito grandes. Fiquemos, portanto, com o apóstolo Paulo, que dizia “tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”. (I Cor. 6,12).


Pedro Fagundes Azevedo

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

MARIA EDUCADORA DE JESUS



Maria a Educadora de Jesus: Continuidade

Augusto Cury, em seu livro “Maria, a Maior Educadora da História” defende a idéia de que um dos motivos de Maria ter sido tão bem sucedida em sua tarefa de educar o menino Jesus, é porque ela sabia, e muito bem, proteger a sua emoção; ela fazia questão de ensinar a seu filho esta arte.
Faz ele interessante raciocínio:
Respeitados educadores ensinam os jovens a ter cuidado com seus objetos, não destruir seus materiais didáticos, não manchar suas roupas e a cuidar de seu corpo evitando acidentes e tendo higiene pessoal. Mas esquecem de ensiná-los a proteger o mais difícil espaço do ser humano, a sua emoção.1
Continua o autor na sequencia:
Quem não aprender a proteger a sua emoção pode até conquistar o mundo, mas será sempre infeliz; pode ser aplaudido, mas será sempre opaco; pode comprar todo tipo de seguro, mas será sempre frágil.
Todos nós que habitamos um planeta de expiações e provas, e principalmente nestes dias de transição, temos motivos para nos tornarmos tristes, depressivos, angustiados, preocupados e até mesmo contrariados. Entretanto, importa-nos reconhecer que Maria teve motivos ainda muito maiores que os nossos.
Conforme narram os evangelistas, teve uma gravidez incompreensível para a mentalidade comum, isto gerou nela, em seu noivo, e em toda sua família, sérias apreensões. Após o menino nascer envolto em mistérios, teve que deixar sua cidade, sua zona de conforto, o calor dos familiares, e partir para um novo país, sem saber por quanto tempo, em que condições lá viveria, com quais recursos, etc. Sua sensibilidade era grande, pois quanto mais o Espírito é evoluído, mais é sensível; assim, deve ter muito sofrido com a perseguição de Herodes aos inocentes por causa de seu filho. Tudo isso devia ser para ela e para os seus, motivo de grandes pressões psíquicas; não esqueçamos ela era uma adolescente, e estava num dos momentos de maior sensibilidade para uma mulher, o período pós parto.
Como será que reagiríamos numa situação destas? Por muito menos nós nos tornamos angustiados, depressivos, inconformados e paralisamos todo processo criativo em nossa vida. Qual a diferença entre nossas posições e a de Maria? Simplesmente de atitude. Maria sabia administrar seus conflitos, gerenciar suas emoções.
Em momento anterior neste nosso estudo fizemos uma breve comparação entre Maria e Eva, aqui podemos ampliá-la. Através do sentimento de Eva entramos em queda por ser ela a representação de um sentimento dissociado da razão. Maria por representar a sublimação de Eva, ensina-nos a usar o emocional e o racional em plena harmonia. Não é um sobrepondo-se ao outro, não é a razão dando a palavra final, mas o perfeito equilíbrio entre estes dois componentes tão importantes para o nosso progresso em todos os níveis.
Neste passo podemos fazer mais uma importante reflexão. Não sabemos se Maria não agisse desta forma, se poderia comprometer a missão de Jesus. Teoricamente sim, pois se ela se tornasse uma inconformada, se ela trabalhasse um sentimento de autopiedade, dificultaria sem dúvida o desenvolvimento de seu filho. Porém, como este acontecimento - a vinda até nós de Jesus - foi o mais importante de nosso planeta, desde a sua origem, o Pai não delegaria para esta missão quem tivesse a chance de falhar. Todavia, o Evangelho não é uma telenovela ou um romance comum, é preciso trazer para o nosso dia a dia as suas lições imortais.
Assim, é importante refletirmos, pois nós não sabemos quem o Pai colocou em nossa vida como filho, qual a missão de cada um deles. A mãe de um futuro presidente de uma nação não sabe o que ele será quando criança, o mesmo podemos dizer em relação a um grande cientista, ou, a um importante educador. Será que não estamos atrapalhando o projeto de Deus ao agirmos de forma tão destemperada como em muitas vezes fazemos? Não estaremos dificultando a vida de nossos filhos sendo inconformados, ensinando-os com a vida prática a não perdoarem quando contrariados, a serem violentos e irracionais?
São pontos a serem trabalhados por todo aquele que já está cônscio de sua necessidade reeducativa e da importância de agir como um colaborador de Deus.
Voltando ao citado escritor e psicoterapeuta, Augusto Cury, na obra já aqui comentada, ele sugere-nos três ferramentas para trabalharmos em nossa vida, e para ensinarmos aos nossos educandos - pois não tenhamos dúvida todos somos, em maior ou menor escala, educadores - a fim de evitarmos transtornos depressivos, suicídios, enfermidades psíquicas e perda de oportunidades. São elas:
  • Doar-se sem esperar muito do outro.
  • Compreender o outro na sua dimensão interior.
  • Saber que ninguém pode dar o que não tem.
Sem dúvida são três princípios de grande importância para todos nós e que se os praticássemos diminuiríamos e muito nossas dores e dissabores.
Temos muitas vezes dito e ouvido que Deus nos criou para amar e sermos amados. É preciso repensar esta informação e analisá-la com carinho.
Ao nosso ver ela é em parte verdade, mas há nela um pouco de contaminação de nossa psicologia inferior.
Sim, fomos criados para amar. Deus é amor. A matéria prima da criação é amor. Assim, se quisermos estar ajustados a Deus, caminhar no fluxo natural da vida de acordo com a Vontade Soberana e sermos agraciados por sua Misericórdia, temos de amar, pois este é o “idioma” de Deus, é através dele que nos comunicamos com o Criador.
Entretanto, a segunda parte da afirmativa “ser amado” deve ser observada de forma diferente. Não fomos criados para sermos amados como uma pré-condição básica. Ser amado é efeito, consequência, retorno. A causa é amar, se amarmos seremos naturalmente amados. Isto se dará sem nenhuma ansiedade, espontaneamente. É da Lei, e ela se cumprirá sempre.
Esta questão mal compreendida é que dificulta trabalhar em nós a primeira ferramenta, pois até admitimos que devemos doar, até nos sentimos satisfeitos por assim proceder, porém não abrimos mão de esperarmos retorno, temos o grande defeito de criarmos expectativas e esse é o problema. Se não criássemos expectativa em relação ao outro noventa por cento de nossas dificuldades de convivência estariam resolvidas.
Vamos trabalhar a terceira ferramenta, saber que ninguém pode dar o que não tem, junto com a primeira, pois em nosso modo de ver ela é um acessório desta. Quem não espera muito do outro, sabe que ele só pode dar o que tem, uma virtude maior contém naturalmente uma menor. Ou ainda, a vivência da terceira ferramenta, leva naturalmente à primeira.
Aqui nos permitimos uma ressalva muito bem colocada pelo Espírito André Luiz através da mediunidade gloriosa de nosso querido Chico Xavier, a alegria é a única coisa que podemos dar ao outro mesmo se não possuirmos.
Portanto, se ainda não conseguimos, como seria desejável, não esperar muito do outro, iniciemos o processo de defender a nossa emoção pelo menos não pedindo a ninguém algo que ele esteja incapaz de dar. Proceder deste modo não é ainda ser bom, mas é pelo menos agir com inteligência, o que já é um grande passo para a conquista da sabedoria.
A outra ferramenta colocada por Cury e também de fundamental importância é compreender o outro na sua dimensão interior.
Compreender o outro por si só é uma virtude de grande alcance e que evita muitas contrariedades.
Perdoar é uma atitude nobre, compreender é ainda mais, pois aquele que verdadeiramente compreende o outro não chega nem a sentir a ofensa, não tendo assim o que perdoar.
Compreender é desativar os pontos de conflito, significa transitar com segurança na área da emoção. E compreender o outro na sua dimensão interior torna-se ainda mais nobre, pois além de enxergar o outro, o que não é habilidade comum entre nós, é se aperceber do que está para além do visível, é também saber do outro em suas dimensões emocionais, espirituais e sentimentais.
Só Espíritos de boa condição moral e espiritual têm esta capacidade, e fazendo deles modelos a serem seguidos temos de ser obstinados em trabalharmos também nosso interior na conquista deste valor.
E Augusto Cury ainda nos faz, na mesma obra e capítulo, importante consideração sobre este tema: por trás de uma pessoa que fere, há uma pessoa ferida. Como a nos dizer: “quando nos sentirmos atacados, ou agredidos por alguém, trabalhemos nossa acuidade espiritual e enxerguemos nela não um agressor comum, alguém de má índole, mas um enfermo necessitado de um médico para a sua alma”. E Jesus, o filho de Maria, já nos alertara, o doente é que precisa de médico. Ele é o Médico dos médicos, e nós, seus efetivos colaboradores na implantação de sua Boa Nova no coração de todos.
Tu me amas, ainda fala o Senhor na intimidade de nossos corações, então, apascenta as minhas ovelhas. O que de outro modo pode significar: “educa as minhas ovelhas.”
1 CURY, Augusto. Maria, a Maior Educadora da História. São Paulo, Ed. Planeta do Brasil, 2007, cap. 6.
Autor: Claudio Fajardo de Castro (Juiz de Fora/MG)

Baixe o livro  “Maria, a Maior Educadora da História”
Augusto-Cury-Maria-a-maior-educadora-da-historia.pdf