quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Hatshepsut - de Tebas para as estrelas



DE TEBAS PARA AS ESTRELAS

            No mês de junho último, especificamente no dia 30, completou-se o quinto ano da partida de Chico Xavier para o plano espiritual.
            Alma de escol que entre nós se transformou em um verdadeiro apóstolo do bem, fiel aos princípios assumidos perante Emmanuel, o seu pai espiritual, evangelizou a sua mediunidade legando um verdadeiro mandato de amor a toda a comunidade espírita.
            Como medianeiro, notabilizou-se como um dos mais afinados instrumentos de que a Espiritualidade Superior se utilizou na história relacional entre a dimensão espiritual e a terrena.
            Estudiosos apontam-no como tendo uma mediunidade orgânica, pela tangibilidade dos fenômenos e pela autenticidade do conteúdo revelado.
            Centenas de entidades se comunicaram através de Chico Xavier: desde acadêmicos, cientistas, médicos, advogados, músicos e poetas, educadores e religiosos, até os anônimos da sociedade terrena que vieram consolar seus familiares desesperados...
            Com isso, uma aura mítica foi criada em torno do “homem da paz”, gerada por lídimas e naturais razões.
            Chico Xavier refletiu, com autenticidade, a luz do pensamento dos verdadeiros seguidores do Cristo. Assim, foi ele um fiel instrumento para que a mensagem do Evangelho, resgatada pela Doutrina Espírita, chegasse a milhares de corações sedentos de consolação para as suas dores, de esclarecimentos para a promoção da autolibertação e de incentivo para o despertar do Amor – alimento insubstituível da alma.
            Nesta complexidade entre dimensões, os filhos do Calvário aproximaram-se permanentemente da mensagem Espírita representada pelas ações legítimas que, em essência, revelam, muito além do limite dos seus representantes, a magnitude da fonte que é o Cristo.
            Muito se dirá sobre Chico Xavier e seus feitos, como ele mesmo previu. Acreditamos, contudo, que cada página que for escrita, divulgando a essência do Evangelho, ganhará terreno apenas quando vier apagando a personalidade do nosso querido medianeiro. Este era o seu sonho.
            Arnaldo Rocha, um dos fiéis amigos de Chico, tem afirmado em livros, reportagens, entrevistas e diálogos, que a comunidade espírita poderia estudar com mais profundidade a vida do médium de Pedro Leopoldo em nível doutrinário. Desta forma, seria evitado o alimento à idolatria, incensada em virtude de nosso sentimentalismo que aprisiona, ao contrário da admiração dos exemplos ofertados em autêntico sentimento que liberta para vôos ascensionais.
            Recentemente, a ciência nos ofereceu um ponto de transcendência no estudo acerca da evolução espiritual de Chico Xavier. Depois de 104 anos, ficou confirmado, através de recursos tecnológicos, que uma múmia encontrada no Vale dos Reis e das Rainhas pertenceu à única mulher faraó do Egito – Hatshepsut[1] – a filha do Sol.
            Foi ela uma rainha – filha do grande rei Tutméses (Tutmósis I) e da rainha Ahmose – e que, por força das circunstâncias, assumiu o Império Egípcio e governou entre 1503 e 1482 a.C.

 
Múmia encontrada 1903, e identificada no dia 27/06/2007 pelos egiptólogos

            Unindo o Alto e o Baixo Egito, ela fez curvar os sacerdotes e as forças militares pela sua autoridade moral. Vestindo roupagem de homem realizou, durante 22 anos, um dos mais importantes reinados do maior e mais respeitado império que a Terra já viu.
            Tendo uma vida asceta, recatadamente distante da ilusão da corte, estudiosa do ocultismo e voltada para a arte, dedicou-se a seu povo como poucos faraós do grande império.
            Entre seus feitos mais importantes contam-se o de suspender as ações militares, que historicamente representavam a busca frenética pelo expansionismo, bem como a aplicação do tesouro do Império na construção de templos. Fortalecendo a economia, qualificou a vida de seus súditos. Nunca o Egito foi tão feliz. As festas religiosas se multiplicaram às margens do grande Nilo, que parecia serpentear pelas terras áridas irrigando a mente e o coração do egípcio com valores da imortalidade da alma e da reverência aos deuses, para singrar o grande rio da evolução.

 
Templo Deir al-Bahri, uma das atrações mais visitadas da cidade de Luxor, antiga Tebas.
O templo é uma incrível expressão do poder absoluto do faraó


            Esta rainha dignificou suas ações, enaltecendo a escrita no papiro da vida, vendo nascer o “livro dos mortos[2]”, entrando para a eternidade à frente dos grandes, permitindo se apagar para que os homens continuassem com o poderio na terra.
            Depois de cumprir a missão do seu Deus – Amon-Rá, em ser fiel representante do plano espiritual entre os homens, entregou o poder ao filho bastardo de seu pai, em razão do avançar da idade.
            Após sua partida para o Reino dos Imortais, Tutmés III, o Napoleão do Egito, destruiu, por inveja, tudo que dizia respeito a Hatshepsut, a fim de apagar os feitos daquela que enobreceu a mais importante dinastia egípcia.
            A perseguição à sua memória foi tão cruel que só na atualidade – 3.500 anos depois – vemos ressurgir das cinzas os créditos espirituais da maravilhosa contribuição deste grande Espírito ao mundo antigo. Sua história reaparece nos tempos conquistados. Em uma singela reflexão evangélica pela sua envergadura nas reencarnações que se sucederam, poderíamos mergulhar nas letras do Evangelho e analisarmos o ensinamento do Senhor: “ E todo aquele que vive e crê em mim, nunca morrerá”. (João, 11:26).

  
Hatshepsut. Museu Nacional de Alexandria

Afirmam os filósofos que estamos aprendendo com a História, hoje, para escrevermos, no livro da vida, um futuro mais promissor. Há 150 anos a Doutrina Espírita nos ensina isto, por meio das leis de causa e efeito, da reencarnação e da evolução espiritual.
            Na década de 50, do século XX, Chico Xavier confidenciou aos seus amigos, incluindo Arnaldo Rocha, que as marcas das experiências no Egito estavam indelevelmente assinaladas em seu psiquismo. Conta-nos Arnaldo, relembrando a narrativa do próprio amigo, Chico Xavier: “- Ela, a Rainha, teve que usar barbas postiças e o capacete do abutre para esconder dos homens do povo sua identidade feminina, com isso realizar a obra espiritual para o seu povo amado. Desencarnou com diabetes, câncer nos ossos e uma infecção generalizada[3]
Assim, Chico Xavier aprendeu, na própria marcha ascensional, que o povo precisa de Amor, mas esse manancial inesgotável deverá ser dinamizado a partir do próprio ideal; é por isso que Hatshepsut se apagou para que a obra dos imortais viesse aos homens.
Ampliando nossa visão psíquica, com toda a reverência que Chico Xavier nos merece, poderemos estudar aspectos significativos dos últimos decênios da sua atual encarnação. A Providência Divina, pelos meios televisivos, ampliou o trabalho de divulgação da Doutrina Espírita, a partir do programa Pinga Fogo, da rede Tupi, na década de 70, e levou a milhares de lares brasileiros a imagem de um homem simples, pacato, desprendido, que falava do Amenti[4], dos espíritos, e da mensagem viva do Evangelho do Cristo. Estas imagens reacenderam, pelo magnetismo inestimável, uma chama espiritual de reconhecimento e amor em milhares de viajores do tempo que, apesar de mudada a ribalta, ainda necessitamos de amar o amor não amado: Jesus. 
Chico Xavier nos faz pensar e, pelos seus feitos, nos incentiva a decodificar a Luz maior, pelo prisma da intuição, e a nos projetarmos ao verdadeiro caminho, à legítima verdade e à plenitude da excelsa vida.
            Muitas das vidas deste grande amigo se refletem na atualidade, mostrando que o presente de cada um é uma construção colossal. Para muitos de nós, o momento atual está inserido entre os departamentos das pirâmides que dimensionam o nosso passado na engenharia psicológica da evolução, e se projeta para os céus em busca da luz do Sol de nossas vidas, o Cristo.
Repetimos, comparando as duas vidas que revestem o perfil psicológico de Chico Xavier, e sem querer cansar o leitor atento, que só temos que prestar um preito a este Espírito que nos ensina – como um rei representa aos seus súditos – a importância da Vida e do Amor. Vencendo os desafios do caminho, aguardaremos o momento certo em que os Benfeitores nos ajudem a redescobrir e aprimorar o passado adormecido nas ruínas do tempo.
            Ave, ó faraona esquecida!
            Ave, Chico Xavier! Amigo para Sempre!
            Ave, Cristo!
Que o Sol do Evangelho traga a lume o caminho das estrelas.


Carlos Alberto Braga Costa
Autor do livro “Chico, Diálogos e Recordações...” – Ed. UEM 

Fonte: O Espírita Mineiro – número 299 – Setembro/Outubro 2007. Órgão da União Espírita Mineira

P.S.: Um dia a vida há de designar um pesquisador para comparar o dna da Farani com o dna de Chico Xavier. Com isto poder-se-á descobrir material científico para estudos aprofundados do perispírito.




[1] Hashepsut nasceu em Tebas, que atualmente se chama Luxor. Sem nome era Maat-Ka-Ram, que significa “A verdade é a palavra do seus Sol.
[2] Código de comportamento dos espíritos no Plano Espiritual
[3] Narrativa de Francisco Candido Xavier a Arnaldo Rocha, confirmada pelo exame de DNA.
[4] Amenti era conhecido como o reino dos mortos


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