domingo, 9 de outubro de 2011

POR QUÊ TEMOS TANTO MEDO DA MORTE E DO MORRER?


POR QUÊ TEMOS TANTO MEDO DA MORTE E DO MORRER?


Para compreendermos melhor este tema temos que diferenciar medo da morte do medo de morrer.
O medo de morrer é um medo natural, espontâneo e necessário. Ele vem do nosso instinto de conservação que serve para a preservação da nossa vida. Este medo natural de morrer nos protege de situações arriscadas, como por exemplo, correr a 160km/h, aproximar-se de um precipício sem uma segurança, atravessar uma rua averiguando bem se vem algum veículo, etc. Este medo natural, então, é um mecanismo para a nossa proteção. Quando este medo torna-se exagerado, passa a ser um medo patológico, fóbico que merece tratamento especializado. Portanto, o medo de morrer é necessário, bom e útil dentro de um limite equilibrado.
Já o medo da morte é inadequado. É um medo quase sempre aprendido dentro da cultura onde vivemos. As pessoas não gostam de falar sobre a morte. A morte é um tabu. Quantas vezes ouvimos alguém dizer: “Tanta coisa para se falar, vamos falar justamente de morte? Vira esta boca prá lá?”
Evitar falar sobre a morte é uma das formas que utilizamos para nos defender ou nos pouparmos do sofrimento.
Falarmos sobre a morte nos incomoda, não é tão interessante. Por quê?
Porque atinge o ser humano em seus dois “medos básicos”: o medo da morte e o medo de ficar louco. Observe que ambos tem um significado de vazio, do nada, da não existência. E não existir, perder a personalidade, perder as funções mentais e cognitivas é o caos.
Então, o que nós vamos fazer com este medo da morte?
Procurar esclarecimentos, refletir, estudar, pois a causa do medo é o desconhecimento.
O Dr. Franklin Santana (Phd, médico geriatra) é um dos organizadores do curso de pós-graduação de Tanatologia, da USP-SP. A Tanatologia é uma ciência que vem ajudar muito o ser humano a vencer o medo da morte. Ele nos diz que falarmos da morte é fundamental para a construção do significado da vida.
O escritor francês Leon Dennis, grande pesquisador do assunto, também recomenda-nos: “Devíamos encarar a morte face a face. Desembaraçá-la das sombras e das quimeras que a envolvem para nos prepararmos melhor para este acontecimento natural e necessário no curso da vida.”
A Dra.Elizabeth Kulber Ross (Phd, médica psiquiatra suiça, radicada nos Estados Unidos, uma das maiores pesquisadoras do mundo sobre o tema) fala que o nosso inconsciente não admite a idéia da própria morte. Em nosso inconsciente acreditamos em nossa imortalidade.
De maneira bem simples, simbolicamente, o nosso inconsciente é um porão. E porão é um lugar onde se guarda um montão de coisas, um local escuro, um tanto fechado. Abrir janelas, permitir a luz do entendimento adentrar-se; tornar este conteúdo consciente vai atenuar bastante esse medo.
A Dra.Dora Incontri (Phd em Filosofia da Educação pela USP-SP) fala que este é um tema que deveria ser estudado nas escolas com naturalidade, numa visão plural e interdisciplinar.
Este era o velho sonho do escritor, professor e filósofo brasileiro José Herculano Pires que defendia a idéia de se instituir um curso regular sobre Educação para a Morte. Dizia: “Saber morrer é saber viver. Para morrer bem era preciso viver bem.”
Surge, então, uma questão:
Se o medo da morte atenua-se, alivia-se com o conhecimento lançado sobre ela, temos provas científicas da sobrevivência da nossa personalidade?
Há duas posições essenciais sobre a questão da morte. A primeira é de que existe alguma forma de continuidade da personalidade depois da morte. (Há vida depois da vida). A segunda, é a de que com fim da vida física, o ser não mais existe. (Morreu, acabou).
O Dr.Alexander Moreira (Phd, médico psiquiatra, professor da UFJF) fala que, para temas controversos, é natural que não haja uma resposta rápida e consensual, principalmente se basearmo-nos somente nos moldes da metodologia vigente, mas já temos vários cientistas sérios e respeitados que trabalham com a investigação empírica, trazendo importantes evidências sugestivas sobre o assunto.
Um destes pesquisadores foi o Dr.Ian Stevenson (Phd, médico psiquiatra canadense, professor da Universidade da Virgínia, Estados Unidos) que trabalhou com pacientes que passaram pelas EQMs-Experiências de Quase Morte, deixando grandes contribuições científicas.
À medida, então, que o ser humano reflete mais sobre a morte, compreende melhor o assunto e aproveita melhor a vida. Assim, sua preocupação com a morte diminui. Compreendendo melhor nossa missão aqui na Terra, e, vivendo a vida cada vez com melhor qualidade, esperaremos a morte com mais serenidade, calma, resignação e sem medo.
Conviver bem com a morte é descobrir os encantos da vida.
Muitos tem medo da morte porque não vivem a vida em plenitude. É como se estivessem em débito para consigo mesmos.
“Não tenho medo da morte. Tenho medo da vida não vivida.”
Você já ouviu esta expressão?

2) MUITOS TEM MEDO DE MORRER, MAS ALGUMAS PESSOAS COMETEM SUICÍDIO, POR QUÊ?

O suicídio é uma das tristezas que ainda vemos em nossos dias.
É um problema tão sério que está preocupando a Organização Mundial de Saúde.
O suicídio é arquitetado como uma maneira de equacionar, resolver ou acabar com uma dor emocional insuportável, causada por inúmeros problemas.
A pessoa que se mata está tão aflita e perturbada que não consegue ver que tem outras opções, que tem outros caminhos para seguir e atenuar os seus problemas.
O suicida sente-se terrivelmente só, isolado, fixado numa monoideia.
No suicídio a pessoa não busca o aniquilamento. Ela busca uma fuga do sofrimento insuportável que está passando.
Normalmente são pessoas que estão envolvidas em transtornos afetivos (por exemplo, a depressão), e, psicóticos (exemplo, esquizofrenia).
São pessoas que não suportam a culpa, o fracasso, a rejeição, as injustiças, etc. Outras buscam, com a autodestruição, a vingança; ou, um possível reencontro com quem já se foi.
Tudo isso são descaminhos que não levam a solução alguma.
Conversar sobre o suicídio é a melhor forma de proteger as pessoas, pois elas se abrem e, nessa abertura, conseguem enxergar outras escolhas que de fato lhe trarão menor sofrimento.
O suicídio aumenta a dor, não resolve nem atenua a aflição. È o pior mal que podemos fazer a nós mesmos.

3) O QUE É MAIS DIFÍCIL: A MORTE REPENTINA OU AQUELA QUE OCORRE LENTAMENTE?
Tem gente que prefere a morte repentina, dizendo: “Ah, já que tem que morrer mesmo, que seja de uma vez, assim não fico sofrendo em cima de uma cama de hospital.”
Mas, na prática, as evidências são opostas.
Aqueles dias que se passam num hospital, numa UTI, aparentemente são os piores dias que nunca deveriam existir. Porém, em realidade, contrastando com a angústia e com as dificuldades, esse período traz a possibilidade (tanto para quem vai, quanto para aqueles que ficam) da elaboração da partida, da aceitação, da harmonização dos sentimentos.
Quantas reflexões enriquecedoras, quanto aprendizado, amadurecimento, crescimento interior, perdões, amizades reatadas ocorrem nessas oportunidades, gerando sentimentos de mais serenidade e paz interior?
4) OS OCIDENTAIS ENCARAM A MORTE DE MODO DIFERENTE DOS POVOS ORIENTAIS?
Na Cultura Oriental a morte era encarada com naturalidade, pois predominava a espiritualidade, onde o Ser era mais valorizado do que o Ter. A Cultura Oriental deixou grandes ensinamentos para a humanidade, pois os valores eram mais voltados para o interior das pessoas. Hoje mudou um pouco, em virtude da nossa cultura capitalista, consumista, cheia de apegos ter contaminado aquela outra. A cultura do apego é que gera o medo da morte, que é, na realidade, o medo de perder. Perder aquilo que se conquistou, aquilo que se tem como posse. Por exemplo: os títulos, os cargos, os bens materiais, as pessoas...
O apego faz sofrer, aprisiona. Não somos donos de nada. Somos apenas zeladores.
O ideal é uma postura de equilíbrio: nem privação ascética, nem o outro extremo achando que somente seremos felizes possuindo o mais possível. Precisamos simplificar a vida, não deixando a aparência sobrepor-se à essência.
5) POR QUÊ QUANDO ALGUÉM MUITO QUERIDO MORRE, DÓI?
É difícil mensurar a dor humana, pois cada um acha que a sua é a maior. Porém, numa escala de dor chegou-se, mais ou menos, a um consenso:
A primeira grande dor da humanidade é a perda de um filho; a perda de uma pessoa muito querida. A segunda, é a dor da traição. Depois vêm as outras: cólica de rim, parto, infarto, etc.
Observe que as duas primeiras são as dores da alma.
Dói muito quando alguém parte porque estabelecer um vínculo afetivo; ter um relacionamento feliz; amar e ser amado é a melhor coisa da vida. Amor de esposa, de marido, de filho, de mãe e de pai, de irmão e de amigo, de vizinho, de avô e de neto, de tio e de sobrinho... Até amor de cachorro, de gatinho e de passarinho... Como é bom! 
E, quando esta criatura amada não pode ser mais tocada, não pode ser mais olhada, nunca, nunca mais... Isso dói. E é essa idéia do “nunca mais” é que faz sofrer. O “nunca mais” gera a tristeza, o vazio, o sentimento de perda.
Mas, será que não podemos construir outros significados ao “nunca mais” e ao “perder para sempre”?
Perdem-se coisas, objetos... Perdemos guarda-chuvas, carteiras, celulares, canetas... Pessoas são diferentes. Pessoas morrem, falecem, partem...
A morte não distancia aqueles que se amam.
Através da memória, da rememoração, das doces e saudáveis lembranças a pessoa ausente sempre estará presente.
6) COMO PODEMOS LIDAR COM O VAZIO, COM O LUTO QUE ALGUÉM DEIXA QUANDO VAI EMBORA?
A Dra.Maria Júlia Kovacs (Phd, psicóloga e prof. da USP-SP) traz importantes contribuições neste assunto. Ela diz que o luto é necessário como um processo de elaboração diante da perda de uma pessoa com quem vínculos foram estabelecidos. No luto o ser humano reorganiza-se, reestrutura-se internamente. O luto não restringe-se apenas à morte. Em outras situações de perda também surge, como separações, doenças. Varia o tempo de luto para as pessoas. Pode durar dias, semanas, meses e anos a fio... Atualmente, existe um outro paradigma do luto. Ao invés da idéia de encerramento e conclusão, é saudável manter os vínculos em continuidade. Surge a possibilidade de manter a presença na ausência, reinvestindo o sentimento em atividades e relacionamentos. Não se fala mais em esquecimento dos que partem, e, sim em ressignificação da vida.
Muitas mães que perderam seus filhos em tenra idade trabalham hoje como voluntárias em instituições sociais, ONGs, ou até mesmo, em atitudes próprias, fazem uma sopa bem suculenta e distribuem às crianças em necessidade, oferecendo-lhes igualmente o afeto, a atenção, o carinho. Conta uma delas: “É como se eu estivesse junto dele abastecendo-me também de amor. Este é um dos meios que encontrei para matar a saudade. Eu ofereço um pouquinho de mim e recebo um montão deles. Sempre que estou junto deles lembro-me com alegria de meu filho querido, sentindo-me mais aliviada e feliz.”

7) COMO SE PREPARAR PARA A MORTE?
Li, uma vez, esta frase escrita bem ao lado de um relógio: “Viva cada momento como se fosse o último segundo de sua vida.” Penso nela até hoje. Ela está sempre presente na minha cabeça.
Preparar-se para a morte é preparar-se para a vida.
Como não sabemos, quando, onde e como será o dia da nossa partida o ideal é estarmos sempre preparados, aproveitando integralmente o tempo que nos resta, oferecendo o melhor de cada um de nós em favor da edificação humana. Não deixar para amanhã o que se tem que realizar hoje.
Quando perguntam aos pacientes que estão partindo:
“O que você faria se tivesse mais um tempo de vida?”
A maioria nunca menciona que adquiriria mais isso ou mais aquilo. Dizem:
“Eu amaria mais a minha esposa. Seria mais amigo e fiel companheiro.”
“Eu diria mais aos meus filhos que eu os amo muito; que eles são a maior alegria de minha vida.”
“Eu aproveitaria mais os meus amigos e familiares ofertando-lhes muito mais amor e gratidão do que ofereci.”
“Eu procuraria somente cultivar afetos em meus relacionamentos. Caso tivesse apenas um desafeto, eu o procuraria para pedir-lhe perdão e transformá-lo em amigo.”
“Eu cuidaria melhor de mim e ajudaria mais as pessoas.”
“Teria mais contato com a natureza.”
“No fim da vida aprendi que a maior realização é amar, respeitar, ajudar, compartilhar o melhor de mim com as Pessoas.”
E nós temos este tempo ainda!
Bibliografia:
A Arte de Morrer – Visões Plurais – Volume 1 (Organizadores: Dora Incontri e Franklin Santana Santos). Editora Comenius
A Arte de Morrer – Visões Plurais – Volume 2 (Organizador: Franklin Santana Santos). Editora Comenius
Sobre a Morte e o Morrer – Elisabeth Kübler-Ross – Editora Martins Fontes
Quem Tem Medo da Morte? – Richard Simonetti – Editora Ceac

Tags: MEDO,MORTE,DOUTRINA ESPÍRITA,ESPIRITISMO......


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